A complexa pós-modernidade política mundial (texto do dia 06/07/24)

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*JULIO CESAR DE LIMA PRATES

O primeiro-ministro do Reino Unido, que comandará a chefia de governo, é o trabalhista Keir Starmer, embora a chefia de Estado seja exercido pelo Rei Charles III. Trata-se de uma monarquia constitucional, mas a vitória do trabalhista de esquerda e centro-esquerda, vai na contramão de uma forte tendência direitista que emergiu com força na Europa.

Amanhã, a França deve consagrar o direitismo da Presidenta do Rassemblement National (RN),  Marine Le Pen. A França  elege amanhã 577 cadeiras na Assembleia Nacional Francesa e a previsão é que a ultra-direita francesa eleja 289 cadeiras, dando maioria absoluta a Le Pen.

Na França, diferente do Reino Unido, presidente é eleito por um mandato de 5 anos, podendo ser reeleito apenas uma vez. O mandato de Emmanuel Macron vai até 2027, mas governará sem maioria do congresso. No Reino Unido temos uma monarquia constitucional desde 1688, implantada com a Revolução Gloriosa do mesmo ano.

Entretanto, o Reino Unido assombra um espectro da Europa, pois vai na contramão do direitismo europeu, em especial na França e na Itália que tem como primeira-ministra a jornalista direitista Giorgia Meloni. Após muitas leituras, até para entender bem o trabalhismo inglês, nota-se que o premiê é um misto entre a esquerda e centro-esquerda do Reino Unido.

Com toda prudência pode-se afirmar que o Reino Unido, mais uma vez, está na contramão da tendência majoritária da Europa, pois a eleição de Keir Starmer é um claro indicativo disso, seja pela tendência centro-esquerda do trabalhismo, sejam pelas raízes históricas do trabalhismo do Reino Unido.

É claro que amanhã a França, estranhamente a França de François Mitterrand, socialista que exerceu 2 mandatos quando este ainda era de 7 anos, acabará consagrando a direita mais xonófoba da Europa, porém, contraditória, pois Marine Le Pen é altamente simpática de Vladimir Putin, líder russo. Aliás, essas alianças pós-modernas não têm uma tendência clara, pois Donald Trump, que lidera a corrida para a Presidência dos EEUU, pelos Republicanos, também é altamente aliado de Vladimir Putin, embora seja mais à direita que Joe Biden, presidente democrata atual dos EEUU.

A pós-modernidade política é um tanto complexa e nem sempre encontramos a mesma lógica que tínhamos nos tempos de François Mitterrand. Hoje, teremos – estranhamente – a direita francesa e italiana altamente aliada de Putin e se se confirmar a vitória da Trump a própria OTAN está com os dias contados.

É claro, no meio disso tudo existe a complexa questão Palestina e o embate do Hamas com Israel, assim como o Hezbollah, embora o Hamas seja sunita e o Hezbollah seja xiita, embora ambos sejam majoritariamente islâmicos.

É evidente que o massacre judeu em Gaza afetou barbaramente a boa imagem de Israel e será muito alto o custo da reconstrução dessa imagem, pois Israel emergiu com força após a segunda-guerra mundial, inclusive após sua fundação em 14 de maio de 1948 e Benjamin Netanyahu provocou danos sem precedentes na causa de Israel.

Putin, ao contrário do que disseminam os evangélicos maldosos, é aliado de primeira mão de Israel e jamais ficaria contra os interesses de Israel, embora o massacre em Gaza tenha feito o ideólogo russo Alexandr Dugin, que é o grande pensador russo da atualidade e esse tem fortes inclinações em defesa dos palestinos e contra o massacre/genocídio em Gaza.

Dugin é cientista político e filósofo político que pensa tudo pelo staff de Putin, é autor de 35 livros de ciência política e tem apenas 63 anos, um pensador jovem pelo volume de obras.

É claro que Dugin elabora os passos de Moscou e dita as regras seguidas por Putin, muitas delas altamente complexas pela nossa leitura aristotélica, mas é um grande pensador de a arte da guerra. Uma espécie de Sun Tzu da era cibernética.

Putin é simpatizante dos trabalhistas britânicos, está com um pé na França com Le Pen e ainda tem Trump, que morre de amores por ele, tendo tudo para se tornar um grande líder mundial, embora o imbróglio de Israel e do Hamas ainda longe de uma solução.

Assim, a compreensão e a leitura atual da política mundial, em especial a partir dos desdobramentos da Europa, é uma leitura que pesa muito fora da lógica aristotélica ocidental, pois aí estão os fatos presentes na Europa, mas com relação com a Rússia, China, Irã, Israel e Palestinos, tornando-se assim uma leitura globalizada que enseja conhecimentos de várias realidades locais para encetar a necessária reflexão da atualidade com seus vieses e particularidades.


*Jornalista nacional registro nº 11.175, Registro de Editor Internacional nº 908225, Sociólogo e Advogado inscrito na Sociedade de Advogados nº 9980 OAB-RS. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura  Textual e também em Sociologia Rural. Autor de 6 livros.  

 

 

 

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