Jornal e jornalismo

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Edição 01 do Jornal A Hora, lançado dia 01 de maio de 1997.

Todos nós, trabalhadores   jornalistas, que lutamos pelo direito de expormos nossas ideias sem censuras.  1º de maio de 1997 foi fundado em Santiago  o Jornal A Hora. Em 2000, surgiu o jornal a Hora on line e em  2002, surgiu o blog Júlio Prates, com domínio limitado no Blogspot, que só aceitava mil postagens.

Avançando.

Nada melhor que falar de imprensa escrita no Brasil, das modalidades hoje conhecidas, a mais antiga. Já na edição de junho de 1808, Hipólito Costa, em seu Correio Brazilienze, escrito e impresso em Londres, asseverava: “O PRIMEIRO dever do homem em sociedade he ser util aos membros della; e cada um deve, segundo as suas forças Phisicas, ou Moraes, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte, ou a educação lhe prestou. O indivíduo, que abrange o bem geral d’uma sociedade, vem a ser o membro mais disctinto della: as luzes, que elle espalha, tiram das trevas, ou da illuzão, aquelles, que a ignorancia precipitou ao labyrintho da apathia, da inepcia, e do engano. Ninguem mais util pois do que aquelle que se destina a mostrar, com evidencia, os acontecimentos do presente, e desenvolver as sombras do fucturo. Tal tem sido o trabalho dos redactores das folhas publicas, quando estes, munidos de uma critica saã, e de censura adequada, represêntam os factos do momento, as reflexoens sobre o passado, e as solidas conjecturas sobre o futuro”.

No meu livro BOCA DE LOBO, escrevi alguma coisa sobre nossa imprensa, especialmente algumas pesquisas, razão pela qual posso afirmar que a primeira tipografia que surgiu no Brasil data de 1706, no Recife, por iniciativa do então governador Francisco de Castro Morais. E pequena tipografia servia para imprimir letras de câmbio e pequenas orações de católicos. Contudo, a Carta Régia de 8 de junho do mesmo ano, determinou seu fechamento. Veja-se, que mesmo uma simples tipografia, que sequer imprimia jornais, foi alvo de uma decisão imperial, vetando-lhe a existência.

Todos os anais historiográficos são unânimes em afirmar que a Imprensa brasileira surgiu com a própria corte de Dom João, visto que um funcionário da corte portuguesa que fugira para o Brasil, trouxera consigo uma pequena tipografia. Assim, Antônio Araújo, em judeu convertido na corte portuguesa, sem querer, introduziu, oficialmente, a imprensa no Brasil, visto que o Imperador, aqui chegando, ordenou que a mesma passasse a fazer, às vezes, da imprensa régia. Dessa forma, em 10 de setembro de l808, surgia no Brasil, o primeiro número do jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Seu primeiro redator-chefe foi frei Tibúrcio José da Rocha.

Estabelece-se, assim, um belo debate; o primeiro jornal impresso no Brasil surgiu dia 10 de setembro de 1808. Já o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, impresso em Londres, surgiu dia 1° de junho de 1808. Seu editor, o gaúcho, Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, era um espécie de panfletário, visto que fazia seu Jornal circular no Brasil de forma clandestina, passando de mão-em-mão entre os círculos formadores de opiniões. Perseguido ferozmente desde seu lançamento, em junho de 1808, o Correio Braziliense, mantém-se em circulação mensal, porém em dias incertos, até 12 de dezembro de 1822. Portanto, o nosso primeiro jornal, não oficial, durou 14 anos.

Contudo, a assim chamada imprensa oficial, sempre esteve presente no nosso jornalismo. Em 14 de maio de 1811, surge na Bahia, o jornal “Idade de Ouro do Brasil”, redigido pelos portugueses Ignácio José de Macedo e Diogo Soares da Silva. Este jornal defendia o rei a as elites portuguesas e durou até junho de 1823.

O primeiro Jornal nacional com profunda coloração popular foi o Diário do Rio de Janeiro, surgido em  1821. Seu editor-chefe era Vito Zeferino de Meirelles, que usava  caixetas para coletar notícias  pelos bairros da cidade. Qualquer cidadão podia ali colocar uma nota, um texto… Consta que as 2 horas da tarde as mesmas eram coletadas. Contudo, este jornal não foi nem defensor da monarquia e muito menos defensor da independência. Era, a rigor, neutro politicamente. No mesmo ano de 1821, surgiu na Bahia no dia 04 de agosto o jornal Diário Constitucional e defendia fortes colorações políticas. Foi o primeiro jornal brasileiro a travar um embate eleitoral. Também no ano de 1821 surge no Brasil aquele que seria o grande jornal doutrinário da independência brasileira Revérbero Constitucional Fluminense. Redigido por Januário Barbosa e Joaquim Ledo, o jornal criticava ferozmente a corte portuguesa.

O ano de 1821, de certa forma, representou um boom da imprensa no Brasil. Em dezembro deste mesmo ano surge, no Rio de Janeiro, um outro jornal marcado pela polêmica e pelo forte tom político de sua linha editorial. O nome desse jornal era “A Malagueta” de Luis Augusto May. No ano de 1822 surge um  jornal extremamente politizado e dirigido por um jornalista altamente intelectualizado. O nome desse jornalista é Cipriano Barata e o nome de seu jornal é “Sentinelas”. Cipriano Barata, ao que tudo indica, foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a fazer de sua vida um engajamento radical. Nascido na Bahia, em 1764, diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Advogado, preferiu fazer jornal em sua volta ao Brasil, propagando os ideais da revolução Francesa. Foi preso, denunciado como conspirador e seus livros foram queimados em Salvador. Libertado, um ano depois por falta de provas, aderiu a Revolução de 1817 e participou da deposição do Conde da Ponte, em 1821. Perseguido, fugiu para a Inglaterra. Quando retorna ao Brasil o processo de independência estava em curso e Cipriano Barata volta a editar seu jornal e enfrentar novamente a prisão várias vezes.

Um outro jornal surgido em 1822, o Correio do Rio de Janeiro, de João Soares Lisboa parece ter tido a mesma linha do de Cipriano. Soares Lisboa foi preso várias vezes, processado e expulso do país. Tendo obtido anistia retorna ao Brasil e volta ao oficio de jornalista, sendo morto na Confederação do Equador. Destino trágico teve também Luis Augusto May, redator de “A Malagueta”, também assassinado por adversários políticos. Nessa mesma época surge o jornal “O Tamoio”, também um órgão extremamente político e destinado a atacar os portugueses. Outro jornal radicalmente ideológico foi o “Tifis Pernambucano”, criado em dezembro de 1823 por Frei Caneca. Esse jornal combatia o absolutismo e denunciava os crimes da elite tanto portuguesa quanto brasileira. Era ampla sua plataforma ideológica. Ia desde a propugnação da liberdade de imprensa até o ataque feroz aos portugueses e ao trabalho escravo. Seu redator, frei Caneca, foi preso e fuzilado em 1824.

No Rio Grande do Sul, os jornais chegaram um pouco mais tarde, mais precisamente em 1° de junho de 1827 quando surge o Diário de Porto Alegre redigido por Lourenço Junior de Castro.

Sobre os jornais santiaguenses existem algumas imprecisões. O professor Guiray Pozo em seu livro “Um pouco da história de Santiago”, assevera: “o Rio Branco, que parece ter sido um dos mais antigos jornais fundados aqui, apareceu em 1917 ou 1918, tendo com redator chefe o Sr. Djalma dos Santos”. Já Oracy Dornelles, afirma que tivemos mesmo outros jornais anteriores a essa data, portanto persistindo a dúvida. A partir daí, tivemos vários outros jornais e sobre os quais não pairam dúvidas sobre o ano de criação, os títulos bem como o nome de seus diretores ou proprietários.

Ainda no ano de 1917, Phascoal da Silveira fundou e dirigiu em nossa cidade o assim chamado “Jornal de Santiago”. Em 1919, Osvaldo Barcellos cria o “Jornal da Semana” que pertencia a família Garcia. Em 1925, surge aqui o jornal “A Notícia” da família Costa. No ano de 1927, surge também o jornal “O Popular”, e em 1928 o jornal “A Ordem”. Os registros locais são um tanto imprecisos, porém a partir de 1930 parece ficar mais claro uma leitura historiográfica sobre a imprensa local. Jornais como : “O Município”, “O Progresso”, “Pátria Nova”, “O Popular”, “O Destino”, “A verdade”, “A Coxilha”, “A Folha de Santiago”, “Folha do Vale”, “Correio Santiaguense”, “O Júster”, entre outros, por serem recentes, em termos historiográficos não são difíceis de serem estudados.

Na atualidade, temos vários jornais em Santiago. O Jornal Expresso Ilustrado, criado por João Lemes. O Folha Regional, criado por Itacyr Flores, redefinido por Cleudo Irion e Cláudio Irion, chama-se A Folha Santiago, do Grupo Editorial Folha. Temos, ainda, o Jornal Correio Regional, de Leonardo Rosado, sendo sucedâneo do Jornal Correio Santiago, criado por Sérgio Bueno. O Jornal Matéria Prima, criado por Júlio Martins e Ieda Beltrão, deixou de existir. O Jornal A Hora, criado por esse missivista, em 1° de maio de 1997, hoje redefiniu-se e segue no formato de Revista e entrou na internet no ano de 2000. Temos algumas características que nos diferenciam dos outros demais jornais. Atuamos fortemente em cima da política e não temos uma linha noticiosa e informativa. Nossa linha é de textos longos, opinativos e analíticos. 

Dia 1° de maio de 1997. Circulava pela primeira vez, em Santiago, a primeira tiragem do Jornal A Hora. Hoje, o veículo completa 14 anos e permanece fiel a linha de textos longos e opinativos, poucas ilustrações e circulação restrita.


A manchete do primeiro número:

“Santiago: a estética de uma sociedade contraditória”. A seguir, uma longa matéria de minha autoria sobre o deslocamento do eixo campo-cidade que fez emergir um forte proletariado urbano e ocasiona a formação de grandes bolsões de miséria.

Também, nesse primeiro número, publicamos uma longa matéria, intitulada “Excertos para entender o neoliberalismo” e demonstramos com argumentos bastante didáticos o que eram essas propostas e como elas se constituíam.

Nosso primeiro exemplar, teve – entre outros patrocinadores – o então deputado federal Valdeci de Oliveira, PT, hoje deputado estadual.


Foram anos dificeis. O Prefeito de então, Toninho, durante os 4 anos em que esteve na Prefeitura se negou a receber a direção do Jornal e não precisa dizer que, durante 4 anos, nunca recebemos um centavo de publicidade pública. Pelo contário, Toninho processou o Jornal e articulistas.

Enfim, décadas se passaram nos separam daquele distante 1° de maio de 1997. De minha parte, como criador do jornal, continuo o mesmo homem, com as mesmas crenças no social e com as mesmas idéias de igualdade, liberdade e fraternidade. Por nunca ter mudado, aceito as companhias que se apresentam em minha vida de bom coração. Quem quer ser meu amigo e não interfere na minha liberdade de escolha e pensamento, é, decididamente, meu amigo. Foi assim que tantas e tantas pessoas se agregaram a nós, comerciantes, políticos, colunistas, autoridades, em suma, ampliamos nosso leque de intervenção e constituímo-nos num veículo cuja trajetória somente o tempo será capaz de julgar.

Nossa aposta nunca foi na quantidade e nem na aparência. Sempre privilegiamos o conteúdo, afinal, depois vieram livros, às teses que levantamos. Demarcamos um espaço com tolerância, sem disputas fratricidas, e, sempre saudando e incentivando novos veículos, sejam eles da forma que forem.

Nossa proposta segue firme, hoje,  pela vertente digital. E assim vamos indo. Esse é mais um dia, apenas mais um dia. 

Os tempos mudam. O tempo passa. O tempo voa.

Em breve, nossas crianças de hoje debruçar-se-ão pelas páginas que restarem dos nossos velhos jornais. 

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