Deleuze se suicida aos 70 anos em Paris

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FOLHA DE SÃO PAULO  09/NOVEMBRO/1995

 

O filósofo francês Gilles Deleuze suicidou-se sábado em Paris. Deleuze, que tinha 70 anos, jogou-se da janela de seu apartamento, na capital francesa. O filósofo sofria havia vários anos de uma grave insuficiência respiratória.

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Recentemente tinha passado por uma traqueostomia -operação que abre a traquéia para o exterior do corpo através de um canudo (pela traquéia o ar chega aos pulmões).A morte do filósofo foi anunciada no domingo pela sua família, que não forneceu mais detalhes..O trabalho de Deleuze ficou mais conhecido por meio dos cinco livros que publicou com o psicanalista e também filósofo Felix Guattari (1930-92), entre eles o “best seller” no gênero, “O Anti-Édipo” (1972).

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O pensamento de Deleuze, assim como o de Guattari, está relacionado ao clima intelectual que envolveu as manifestações do “maio de 1968” francês.
Isto é, às revoltas libertárias que questionaram o modo como se pensavam o Estado e o poder, a psicanálise e a psiquiatria tradicionais e que estimularam os movimentos contraculturais dos anos 70.

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No “Anti-Édipo”, Deleuze e Guattari reexaminam o conceito freudiano do complexo de Édipo (as relações entre desejo e repressão na família, que levam à formação da identidade dos sujeitos).

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Para eles, o psíquico e o social não podem ser separados. A vida cotidiana seria o lugar em que ocorrem lutas tidas como menores, mas que conduziriam a transformações mais importantes do que a política tradicional. O desejo e o inconsciente teriam um papel criador na história.

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Deleuze dedicou-se também ao exame de filósofos como Nietzsche (“Nietzsche, Proust e os Signos”, 1969), Spinoza e Leibniz, mas nunca no papel do historiador tradicional da filosofia.

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Nos anos 80, dedicou-se a pensar o problema do tempo por meio da discussão da arte do cinema (“Cinema: Imagem-Movimento”) e do pensamento do filósofo Henri Bergson. Para Deleuze, o cinema não se constituiria como arte enquanto uma linguagem, mas como “pensamento” do tempo real, não cronológico e exterior ao sujeitos.

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Deleuze escreveu ainda “Diferença e Repetição” (1968), “Mille Plateaux (1980) e “O Que É a Filosofia” (1991).

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS
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