Meus ensaios entre Dickens e Kafka

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*Júlio César de Lima Prates

Eu, desde 1982, voto no PT,  exceto quando votei no Brizola e votaria nele de novo.

O fato de eu criticar o PT não quer dizer que eu tenha desistido do PT.  Só não concordo com o petismo despejando dinheiro em veículos claramente identificados. Sou meio PCO e meio Obreiro, embora o partido esteja em fase de formação no Brasil.  Sempre fui trotskista, desde muito cedo e paguei um preço altíssimo por isso. Mas nada me fez mudar de ideia até hoje, embora o minha origem cristã e minha identidade com Jesus Cristo.

Foi no ano de 1982 que eu recebi um texto do Frei Betto, onde ele lançava as bases do cristianismo revolucionário. Nunca mudei minha opção pelos pobres e nem minha identidade de classe. Eu vou morrer crendo nos pressupostos teóricos do marxismo e do cristianismo. E quero morrer pobre, exatamente como nasci. Nunca lesei uma pessoa em toda a minha vida , nunca dei a mínima importância ao dinheiro.

Um dia Nina me perguntou porque eu era pobre se todos os advogados que ela conhecia eram ricos, tinham casas e carros. Preferi dizer a ela que com o passar dos anos ela me entenderia. Esperava criá-la.

Nunca senti atração pelo poder e nem pelo dinheiro. Estranhamente, sou um  homem feliz sendo como sou. É claro que o PT mudou e transformou-se. Mas eu não mudei e continuo sendo o  mesmo homem simples, pobre e me orgulho muito quando sou procurado por alguma família. Nunca me senti bem cobrando valores elevados das pessoas, procuro sempre ser justo e honesto com aquelas pessoas que me buscam como advogado.

Ser pobre é uma opção de vida e isso Nina ainda não havia percebido. Talvez ela perceba que o importante é a gente ser feliz, como éramos tomando sopa em nossa casa, na vida humilde que tínhamos. E também ensinei a Nina nunca mentir.

Antes de escrever esse pequeno capítulo,  li trechos de Franz Kafka, A Metamorfose e refleti sobre os lindos lamentos das sereias, pois elas não tinham o propósito de seduzir e não tinham culpa de produzirem tão belos lamentos, que a todos encantavam.

Eu não tive culpa de ter tido um lar lindo e uma amável filhotinha. Nunca imaginei que os beluários tivessem tanta sagacidade e tanta sede de destruição.  Nem imaginei que tivessem tamanha vontade de potência.

Livre e confiante cidadão da Terra, eis que está preso a uma corrente longa o bastante para lhe proporcionar liberdade sobre o espaço terrestre; conquanto longa apenas de maneira a que não solicite alguma coisa fora dos limites da Terra, escreveu Kafka sobre a coleira, afirmando que o cidadão do céu está preso  numa corrente celeste. 

O livro A METAMORFOSE foi escrito em 1915, derivando-se daí a ausência de vôos do próprio Kafka. É certo que Orville e Wilbur Wright, os Irmãos Wright ou Dumont não influenciaram o universo kafkaniano, mas isso não tira o brilho de sua obra nem o brilho de Gregor Samsa, o caixeiro viajante que é transformado num inseto horrendo.

Sabem por que eu leio Kafka? É minha ânsia de encetar minha noite ante o barulho de um crematório que cremava um corpo, enquanto as pessoas assistiam a um velório de uma pessoa que morreu queimada. Eu já ensaiei Charles Dickens e agora navego por Franz Kafka, até eu fazer nascer um novo monstro que ataque os poderosos e os poderes podres.

Meu orientador de monografia em Teologia é um grande sábio e sua inteligência me assombra, tamanha é minha admiração por sua erudição. São tantos os vieses conscientes e inconscientes que fiquei chocado quando me entregaram farta documentação probante. Agora, dependerá apenas de minha capacidade de diálogo com a opinião pública.


*É escritor, autor de 6 livros, jornalista brasileiro registrado no Ministério do Trabalho sob nº 11.175, jornalista com registro de editor internacional nº 908225, Bacharel em Direito, em Sociologia e em Teologia.  Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual. Também é Pós-graduado em Sociologia Rural.

 

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