Perfeição imperfeita

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Quando vivíamos em nossa casa, eu e Nina tínhamos um cachorrinho que era de rua e – às vezes – se tornava nosso. Mas nunca ficou um dia em casa e a noite sempre fugia e morava sozinho no centro de Santiago. No centro, ele era do poeta e artista plástico Oracy Dorneles.

Querido e amado, Totó tinha múltiplos donos e independente do carinho, sempre preferia às ruas. Às vezes, quando ficava dias sem nos ver, onde nos encontrava, era só festas, pulava em nós com insistência e fazia uma festa que chamava a atenção de todos, que logo compreendiam que era amor o mais puro amor.

Depois que tudo foi desfeito, todos ficamos sem casa, particularmente eu e o Totó.

Agora, seguidamente ele aparece na minha casa, descobriu onde moro e quando chega, arranha na porta até eu o atender. Eu mando ele entrar. Totó entra, deita, tenho o pratinho de comida dele, dorme um pouco e volta para rua.

Outro dia, Totó protaganizou uma cena raríssima. Ele viu um quadro meu com a Nina e começou a chorar por ela … daí então, tirei o quadro e coloquei-o no chão; ele cheirou bem no quadro, como se confortasse a foto e deitou ao lado do quadro e dormiu. Depois, como sempre fez, seguiu seu rumo.

Qualquer dia, quando eu menos esperar, ele aparece de novo.

Ele nunca quis ter casa e sempre foi um filho do mundo e da vida. Alimenta-se com a pluralidade de afetos e anda – aparentemente – sem rumo, embora ele sempre foi assim desde bebezinho.

Eu guardei uma foto dele com o Oracy, que era um homem que amava os cachorrinhos.

Eu acho que ele sente que eu vivo sozinho, pois ele chora quando me vê, mas eu nunca demonstro tristeza para ele, pois sei que está bem velhinho e faço tudo para lhe passar alegria e afeto.

A foto é espontânea dele dormindo em nossa casa. De certa forma, era a casa dele, embora nunca ele tenha aceitado ficar na casa. Vá lá saber se ele não estava certo. Geralmente, quando ele vem atrás de mim, é alta madrugada, sempre alta madrugada. Mas quando ouço seus resmoneios sempre abro a porta. Ele entra feliz, dorme um pouco e volta para a rua, para sua vida, para a sina que ele sempre amou.

Cenas do que foi …

 

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