A tripolaridade e o fim da unipolaridade

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*JULIO CÉSAR DE LIMA PRATES

A humanidade sempre viveu ciclos bem definidos, embora nem sempre visualizáveis à luz do entendimento empírico das pessoas comuns do povo.

Entretanto, as escalas desses ciclos recentes corporificaram-se, mundialmente, com o fim da URSS, União da Repúblicas Socialistas Soviéticas, que ocorreu em 1991, especialmente devido  a abertura política e econômica do governo Gorbatchev, as chamadas Perestroika e Glasnost, sendo que a Perestroika significava a reconstrução da URSS e Glasnost era a transparência e o fim da ditadura nos movimentos sociais.  O grande líder dessa abertura soviética foi  Boris Iéltsin e tudo era antecedido pelos governos  de Leonid Brejenev (1964-1982) e, posteriomente, de Mikhail Gorbatchev (1985-1991).

Durante o período de polarização do mundo com a URSS e os EEUU, vivemos, claramente, um período de bipolarização, especialmente pela amplitude da OTAN e pelo Pacto de Varsóvia, que congregava a URSS, Hungria, Romênia, Alemanha Oriental, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia e Polônia. Somente a URSS era formada pelo lado europeu, composto pela Rússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Belarus, Ucrânia, Moldova, Geórgia, Armênia e Azerbaijão. Já no lado asiático, ou também chamada de continente asiático, parte da Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão.

Em qualquer hipótese, devido ao aparato bélico-nuclear da URSS e seus aliados, tivemos longos anos de assim chamada guerra fria, que era uma guerra não aberta, embora com as velhas táticas de guerras por procurações, entre os soviéticos e os EEUU. Podemos afirmar, assim, sem medo de errar, que esse período foi fortemente bipolarizado, especialmente pela quantidade de ogivas nucleares soviéticas e norte-americanas.

Assim, assistimos a queda do muro de Berlim, em novembro de 1989, que representou a unificação da Alemanhã e, da mesma forma, em 26 de dezembro de 1991, assistimos ao fim da URSS.

Pessoalmente, esse foi um período muito rico em minha vida pessoal, pois, embora ainda muito jovem, a quantidade de textos que eu produzia e minha eleição como Presidente do Diretório Municipal Socialista de Porto Alegre e também Presidente da Comissão de Ética Socialista Estadual, eu acabava sendo requisitado por visitar municípios gaúchos para fazer palestras sobre a nova ordem mundial de então. Sempre viajando em companhia do secretário-geral dos socialistas Carlos Orling, sempre tínhamos compromissos pré-agendados todos os finais de semana. Creio que foi o período que mais realizei palestras em minha vida e sempre em novos municípios gaúchos. Comecei nessa empreitada com 28 anos e só parei aos 32 anos, mas, enfim, foi um período rico e fértil em minha vida.

Raras pessoas acompanharam tanto e tão bem esse período quanto eu. Sempre ligado, sempre estudando e sempre na condição de sociólogo. Convivi com boa parte dos intelectuais gaúchos, dentre eles, Pinheiro Machado, Fúlvio Petraco, Pila Vares, Omar Ferri e Juarez Pinheiro.

Ademais, coube a mim, como presidente estadual da comissão de ética socialista, dar um destino nesse grupo liderado pelo Iltom Marx, de Santa Cruz do Sul,  que propugnavam a separação do Rio Grande do Sul do restante do Brasil. Meu secretário-geral era o médico-psiquiatra judeu Leonardo Grabois, sobrinho do líder da Guerrilha do Araguaia, Maurício Grabois.

Assim, após o fim da URSS e separação da Rússia, que manteve as ogivas nucleares soviéticas, devido a crise violenta pela qual a Rússia passou, assistimos a um período que se estendeu, em tese, até a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 22 de fevereiro de 2022. Na verdade, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky, sempre foi uma marionete da OTAN, e sempre armado pelos EEUU e pelos países da aliança atlanticista, que o insuflavam o provocar a Rússia.

Nesse contexto, surge o  líder russo Vladimir Putin, ex-oficial da KGB, Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti, que em português quer dizer Comitê de Segurança do Estado, e advogado. Em 16 de agosto de 1999 com a Rússia naufragando, a Duma aprovou o nome de Vladimir Putin como Primeiro-Ministro da Rússia com 233 votos contra 84  e 17 abstenções. Putin enfrentou grandes crises com o separatismo checheno, mas sempre foi muito hábil negociador e sempre usou os conhecidos métodos russos, como usou com o líder do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, que foi-se numa suposta queda de seu avião.

Administrando as provocações da OTAN, Putin decidiu invadir a Ucrânia em 2022 e essa data é relevante para a História, pois as alianças bem consolidadas com o Irã, antiga Pérsia, com a China e com o grupo Hezbollah, sabidamente xiita, instado no sul do Líbano. Ademais, Putin ampliou sua aliança com a Coréia do Norte, liderada por Kim Jong-Un e também com o Vietnã, liderado por Tô Lâm.

Com a emergência reconhecida da Rússia sob a liderança de Putin, e o avanço tecnológico-bélico-aeroespacial e nuclear da China, emerge agora uma nova realidade mundial, com o fim da domínio norte-americano e o fim de um período unipolar, surge agora a tripolaridade mundial, expressa na potência da Rússia, aliada de China.

A invasão da Ucrânia pela Rússia reabriu um velho debate sobre corrida armamentista e pela volta da ameaça nuclear em nível mundial.

Assim, poucos notam que a invasão da Ucrânia representou o fim de uma grande era e a emergência de uma nova realidade que sufoca o mundo unipolar e abre as portas da tripolaridade mundial, embora seja tudo muito rápido e muito emergente, pois essas mudanças, muitas vezes levam décadas, e essa tomou corpo em menos de 2 anos. Nesse contexto, muitas mudanças no cenário geopolítico mundial, desde a Inteligência Artificial até uma multiplicidade de guerras regionais, assim como a emergência de uma direita xenófoba, anti-imigração e racista na Europa, justo no epicentro do dito mundo mais avançado.


*Jornalista nacional registro nº 11.175, Registro de Editor Internacional nº 908225, Sociólogo e Advogado inscrito na Sociedade de Advogados nº 9980 OAB-RS. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura  Textual e também em Sociologia Rural. Autor de 6 livros.  

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