O caso Thomas Matthew Crooks e a insanidade em série

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*JÚLIO CÉSAR DE LIMA PRATES

O caso desse jovem, de apenas 20 anos,  que atentou contra a vida do ex-Presidente Trump traz, embutido em si mesmo, o perigo do descontrole em série.  Assim como ocorrem com os serial killers, onde um caso desperta outros, esse caso do Thomas certamente moverá as atenções de outros jovens nos EEUU e no mundo.

Primeiro, tudo indica que o mesmo sequer tinha ficha corrida policial, era filiado ao Republicanos mas fez uma pequena doação aos Democratas.

É claro que ao fato de Thomas existem fatores subjacentes. Primeiro, a radicalização político-partidária que se vive nos EEUU. Segundo, a facilidade ao acesso a armas e, terceiro, sempre surgem esses casos de descontrole quando se polariza muito uma eleição e a política tende a atrair esses esteriótipos. Esse caso será muito estudado e analisado por psicólogos e especialistas afins, afinal o que leva um jovem de apenas 20 anos colocar sua vida em risco? Convicção ideológica é pouco provável, exceto o autoconvencimento do jovem, limitado ao que ele vê e assiste.

É evidente que a cultura da morte é altamente privilegiada na sociedade norte-americana e isso contagia e insufla negativamente diversos perfis, sendo quase impossível ao campo psicanalítico prever esses casos, que, afinal, geram enorme surpresa e perplexidade.

Mas os casos de ataques e mortes em escolas, que é uma marca da sociedade norte-americana, são altamente debatidos por especialistas e até hoje ainda não se chegou a consenso sobre como evitar essa proliferação de casos, que, na era da telemática expandiu-se mundo afora, inclusive em nosso país.

Eu escrevi um artigo após o debate na CNN entre Biden e Trump que a baixaria tinha dominado o tom de ambos os lados. Não precisa sequer ser um especialista para ver que isso contamina, especialmente as cabeças mais jovens e ávidas pela intervenção sociopolítica.

Esse caso ainda não foi sequer analisado com profundidade, mas ele já gera muita complexidade. O que levou a primeira guerra mundial em 28 de junho de 1914? Acaso não foi o assassinato do arquiduque do império austro-húngaro Francisco Ferdinando e sua esposa Shopie na Bósnia? Acaso não foi a ação do jovem anarquista  Gavrilo Princip, integrante da organização MÃO NEGRA? É claro e evidente que as condições objetivas e subjetivas pesaram fundamentalmente, mas o episódio em si contribuiu sobremaneira para a eclosão do movimento em si.

Sabe-se lá que tipo de influência esse jovem americano tinha? Ninguém ainda traçou um perfil de Thomas e com a pluralidade de acessos midiáticos nada pode ser descartado.

A banalização exposta no debate da CNN e a facilidade do acesso as armas no país podem ter influenciado o jovem Thomas, que sequer se preocupou com seus 20 anos e tampouco com seus pais. É claro que muito ainda vai aparecer, mas o certo é que o exemplo do caso é altamente negativo para a relação da sociedade com os atores políticos.

Em nosso país vivemos uma semelhança de radicalização ideológica há muito tempo exposta nas redes sociais, especialmente com o advento da massificação armada defendida pelo bolsonarismo e a banalização da vida pelo ímpeto político-ideológico-militarista que cresce na esteira de políticas públicas de incentivo a escolas cívico-militares.

Há muito esse germe está solto em nosso meio, assim como na sociedade norte-americana. Ademais, a conjuntura belicosa mundial, especialmente detonada a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia, contribui em muito nessa fomentação, aliás, nessa mesma puerilidade do trato banal à vida assistimos com o genocídio israelense em Gaza desde 7/8 de outubro de 2023. É claro que nem o atentado do Hamas pode ser esquecido, mas a desproporção do ataque das FFAA de Israel em Gaza também contribuem nesse caldeirão, onde fervilha o ódio reprimido.

Em termos amplos de eventual conflito global toma corpo a leitura chinesa pela retomada de Taiwan, que encontra todas as condições subjetivas e objetivas favoráveis, especialmente pelo conflito russo-ucraniano e pelo desastre nas eleições norte-americanas, onde o senilismo de Biden ocupa os debates.

É evidente que existe uma retomada mundial pelo armamentismo, especialmente pela união russo-persa, assim como o russo-coreano e russo-vietnã,  assim como o conflito israelente x palestino que ganha corpo excepcional e contagia o mundo, a ponto de fomentar Xi Jinping e o partido comunista chinês na retomada de Taiwan desde Chiang Kai-Shek.

Nesse espectro todo que emerge no mundo não há como negar que a despeito de todos os avanços científicos e tecnológicos do mundo trilateral na era da inteligência artificial, tão decantada por Miguel Nicolelis, emerge também o descontrole primitivo que todos temos dentro de nós e o resultado dessa unicidade individual com a macro-política coletiva é o claro exemplo do atentado ao ex-presidente Trump, pois em todos está presente o germe da violência, seja na forma que for, mas que ninguém mais segura a explosão coletiva que insufla o individualismo, como foi com Thomas em face de Trump.

Ademais, a leitura complexa dessa anômala perversidade social enseja múltiplos conhecimentos, sob pena de gravitarmos em torno da mediocridade jornalística e dos fragmentos teóricos pinçados aleatoriamente de um ou de outro especialista, sem o todo ontológico necessário para a devida compreensão que exige conhecimentos históricos, sociológicos, filosóficos, políticos, jurígenos, psicanalíticos e até sociolinguísticos, pois sem a compreensão da relação língua-sociedade, tudo fica perdido e solto. Assim, não basta a sociolinguística, sem a leitura histórica, como não bastam essas sem a leitura psicanalítica, como também não bastam essas sem a leituras jurígenas (e não jurídica), assim como a sociológica, política e a filosófica.


*Jornalista nacional registro nº 11.175, Registro de Editor Internacional nº 908225, Sociólogo e Advogado inscrito na Sociedade de Advogados nº 9980 OAB-RS. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura  Textual e também em Sociologia Rural. Autor de 6 livros.  

 

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