Por que escrevo?

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*JÚLIO CÉSAR DE LIMA PRATES

 

Para enfrentar o longo frio que atinge nossa região, busquei nas minhas malas velhas as roupas de lãs, em especial, minhas tocas, blusões e alguns casacos, embora sequer saiba onde foram parar meus tradicionais casacos pretos.

Essa foto eu tirei para mandar para o João, filhinho da Gabriele, que ainda está com apenas 1 ano de vida, mas ela sempre me manda fotos e vídeos dele, uma criança dócil, meiga e amável.

Nesses dias frios, agora de madrugada notei na tela do notebook que marcou apenas 2 graus, dentro de casa, sinal evidente que lá fora deve estar bem menos.

Eu não sei até onde existem mobilizações em nossa cidade para socorrer as pessoas castigadas pelo rigor desse inverno. Mas sempre faz falta um cobertor, um acolchoado e até um chá, um café ou um chocolate quente.

O líder religioso que eu mais me identifico na atualidade, no Brasil, é o padre Júlio Lancelotti, que faz aqueles panelões gigantes de comida, sopa quente e vai ele mesmo para a rua, na cracolândia, em São Paulo, ajudar abrandar a fome e o frio dos nossos irmãos. Esse é um verdadeiro exemplo de irmandade, fraternidade e afeto. Em meio a tantas decepções com religiosos, gosto muito do exemplo desse adorável padre.

É claro que seu exemplo poderia ser seguido por religiosos Brasil afora, mas o que vemos é apenas cobranças de dízimos, pedidos de doações e nenhuma prática retributiva, embora a imunidade tributária e embora todos falando no amor e na principiologia de Cristo.

Eu, quando tinha minha casa, sempre acolhia os pobres no frio do inverno, gostava de sopões e confesso que a solidariedade é algo que enche nossos corações. Como eu perdi tudo e ainda sou combatido pelos abutres que fingiam ser meus amigos, consolo-me com o exemplo do padre Lancelotti e torço pela explosão de afeto nesses dias complicados para os mais desprotegidos, especialmente as vítimas do frio e da fome.

Fico imaginando como deve ser difícil passar frio numa noite como hoje. Eu acho que cada cidade devia ter um comitê de combate ao frio e a fome, pois não é difícil um panelão de sopa como faz o padre Júlio.

Eu imagino que muitas pessoas devem ser tocadas nessas noites, pois é difícil ignorar a dor dos que passam frio e fome. Acordei perto das 5 horas da manhã, não consegui mais dormir e decidi escrever e ver meus vídeos sobre a tetricidade genocida de Israel contra os povos da Palestina.

Sem querer, lembrei-me do inverno de 2020. Eu estava com Nina e saímos caminhar pelas ruas do Capão do Cipó. Foi muito bom olhar e sentir os lares e o aconchego das pessoas, o fogo aceso e todos protegidos. Embora exposto ao frio, foi muito bom sentir a sensação daquelas pessoas e daqueles lares.

Após uma longa caminhada, convidei Nina e voltamos para nossas pecinhas, singelas, mas era, enfim, nosso canto e nossa vida.

O que me reservava dali para frente era só vendaval e tudo estava engatilhado contra mim que, tolo, nunca percebi nada, nunca agi com maldade contra ninguém. Foi uma sucessão de golpes e tudo muito doído, muito complicado, cheio de viéses e notei brotar uma podridão tão grande, tão grande, que ninguém faz ideia de como faz-nos mal a traição de pessoas que a gente julgava amigos e amigas, mas que estavam prontas para a punhada, e foi uma sucessão, algo para me matar mesmo. Cada um apunhalou de um jeito e descobri como tudo é cínico e como as pessoas são falsas.

A roda dos escarnecedores é ampla demais, creio que minha condição acadêmica foi até boa para entender a podridão humana, a falsidade, o cinismo e a extensão das mentiras.  Hoje, me dedico para escrever o que passei, as dores que senti com as descobertas e as mentiras que me aplicavam. Até um presente que recebi, um grande amigo descobriu que o mesmo estava todo programado para o embuste de minhas conversas. Como me considero uma pessoa pobre e inexpressiva, nunca pensei que ditos amigos e amigas fossem capazes de tanto para me atingir e para destruir com minha vida.

Mas considero que tudo é válido e tudo tem algum sentido. Por isso, primo pelo que estou escrevendo e sempre rendi homenagens ao Chicão, uma mente doce e pura, que me fez ver o peso da escrita como forma de imortalizar as pessoas que a gente ama e as pessoas que nos traem e nos mentem.

E assim vou vivendo, e assim vou indo. Sei que estou bem perto de minha homenagem muito especial aos falsos e mentirosos, assim como meu reconhecimento a integridade e a valorização da honradez de pessoas dignas.

Por isso, escrevo.


*Jornalista nacional registro nº 11.175, Registro de Editor Internacional nº 908225, Sociólogo e Advogado inscrito na Sociedade de Advogados nº 9980 OAB-RS. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura  Textual e também em Sociologia Rural. Autor de 6 livros.  

 

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