Uma das coisas mais fascinantes e complexas da mente humana, são os sonhos.
O sonho é algo sem regra, sem padrões, sem pré-concepção. Ele acontece, de repente, é uma viagem aos labirintos do nosso cérebro, onde é ativada a memória e – por alguma razão – ele acontece.
No plano racional, cartesiano, até hoje não encontrei explicações razoáveis para esse mistério. O senso comum não pensa: como explicar que uma pessoa sonhe com um cachorro e aposte do jogo do bicho, e acerta o resultado, porque o cachorro tem um número correspondente?
Isso foge a qualquer lógica.
Eu canso de sonhar com aspectos de minha infância, traços que – racionalmente – sequer me lembro.
Esta noite, por exemplo eu tive sonhos apavorantes. Eu tenho uma tendência a sonhar com pessoas, amigos meus, pessoas que já morreram.
SOBRE UM DOS MEUS SONHOS DESSA NOITE
Eu cursava a faculdade de Direito em Porto Alegre. Tínhamos dois semestres de medicina legal. E nosso Professor, um conceituado médico-legal, também diretor do IML, Oswaldo Wolf Dick, costumava dar-nos aulas no próprio IML.
Lembro-me de uma das aulas. Saímos da câmara fria onde ficavam os cadáveres empilhadas (bota odor) (e que cena) e fomos para as pedras onde ficavam os corpos atirados para ali serem abertos … era um açougue. Serrotes e até serras elétricas para abrirem cabeças humanas, ganchos para pendurarem os corpos. Cérebros em vidros, no formol, pulmões …
Nessa ocasião, uma colega minha, a Fernandinha, passou mal, vomitou, e precisou ser retirada da aula. Na pedra, um jovem policial rodoviário federal, todo aberto, mas já costurado, que morrerá num acidente de trânsito. Mais dois corpos de mulheres, a serem abertos ainda e um corpo de uma criança, que houvera sido estuprada, e estava com a vagininha toda ensanguentada. Depois do estupro, mataram-na. Ela devia ter 4 ou 5 anos…isso nunca fiquei sabendo.
Lembro-me tão bem que o Fábio Fernandes, que é coronel e foi comandante-geral da Brigada Militar, chegou para mim e disse: – credo, Júlio, olha aí, a gente não é nada. Eu era colega dele e também da Alessandra Spalding, que é neta do Coronel da Brigada, grande historiador gaúcho Walter Spalding. Eu gostava dela porque seu avô era também escritor, jornalista, muito parecido com meu estilo de vida. A última vez que eu conversei com o Juarez Pinheiro, que foi subsecretário de segurança pública do Estado, a Alessandra trabalhava com eles lá na Polícia Civil em Porto Alegre, alguma coisa ligada à inteligência … ela ficou nessa área da segurança.
Voltamos para o meu sonho …
Passaram-se décadas …
E não é que, hoje, eu sonho justamente com essa menininha cujo corpo estava no IML. E exatamente como eu me aproximei do cadáver dela.
Só que aí entra a complexidade, o mistério, interpretação louca … se é que se pode assim falar.
No meu sonho, eu fitei bem meu olhar no semblante da menina morta. Aí eu fico olhando, olhando, olhando e começo a reconhecê-la. Aí não era mais a menininha, que era negra, essa era branca e eu vi que a conhecia. E começo a fitar meus olhos e a fitar meus olhos e me apavoro: grito desesperado, meu Deus é a Nina, é a Nina.
Só que eu sonhei muito essa noite. Particularmente, quando eu estou nervoso, pressinto algo, e durmo no clarear do dia, tendo a sonhar muito, muito.
OUTRO SONHO
Semana passada, uma menina que estuda direito na URI, me mandou um convite de amizade no facebook. Eu conversei com ela, aceitei o convite, mas logo que me toquei que ela era colega de semestre de um cara que anda vasculhando minha vida em tudo (não preciso dizer que eu tenho fontes), um idiota que não sabe com o que está mexendo.
Aí eu pergunto para ela, peço para ela ser sincera comigo, se alguém mandou-a buscar amizade comigo.
Ela responde que não. Que me conhece da rua … sei lá. As coisas não batem bem e nem ela me entendeu e fomos até ríspidos. Na prática, eu estava falando com uma pessoa que me conhece, que sabe onde eu estou, que sabe onde eu moro, mas eu não a conheço, exceto das fotos dela no facebook. E não é fake.
Olhando as fotos, tentando descobrir o que havia de real, se pureza ou não, pode ser que o interesse dela fosse realmente puro … ou pode ser que não. Aliás, sobre isso conversei longamente com minha ex-sobrinha, que é psicóloga. Num dado momento, olhei para uma foto dela no facebook e vi alguns traços da Luana, que recentemente morreu, ela e o namorado dela, os dois, nunca saberemos, enfiaram uma moto embaixo de uma escânea, ali na saída para São Borja.
Pois não é que eu sonho que estou sentado na mesa do meu escritório e a Luana aparece na porta. Ela e ele, ambos com os capacetes nas mãos, e ela pede para falar comigo. E começa conversar comigo, conta que quer processar uma batuqueira (me dá o nome da mulher) que anda espalhando pela cidade que eles se mataram de propósito.
Meu Deus, como a mente da gente é fértil e como as coisas fluem nos labirintos cerebrais.
Eu tenho esse dom de sonhar. E principalmente quando durmo durante o dia. É incrível, mas eu sonho cada coisa. Minha mãe, por exemplo, que é morta, eu vivo sonhando com ela, que ela está ao redor de minha cama … essas coisas.
Hoje a tarde eu consegui falar com minha filhinha ao telefone. Ela me disse que está bem, Nina é lacônica, fala em monossílabos. É incapaz de produzir uma frase. Eu entendo. Sinto uma piedade enorme disso tudo, principalmente dela. Eu, virei apenas um escravo, em vida, acordado, e nos sonhos, terrores. Como esse dessa noite-manhã.
É claro. Há conexão entre o sonho e à realidade, às vezes; outras vezes, é produto da mente. Pode ser uma prevenção, uma descoberta ou simplesmente uma criação da ilação mental, sem qualquer conexão com a realidade.
É claro, minha filha não foi estuprada e nem morta. Está a sã e salva. Foi apenas um sonho de um pai que sabe das coisas. Uso a dialética e sou cabalista.
AINDA SOBRE OS SONHOS…
Era o ano de 1992. Eu tinha chegado de viagem, de uma breve viagem a serviço, e o Moacir Leão me ligou dizendo que teríamos uma reunião entre técnicos e fiscais fazendários em Passo Fundo, no sábado pela manhã. Só que numa semana antes de eu vajar, tinha um consórcio de uma moto CB 400 e fui para dar um lance e tirar a moto. O número era 45.
Daí eu cheguei em Porto Alegre, liguei para o nosso pessoal da secretária estadual da fazenda. Conversei com o Ademir Pereira, o Ademir Guedes (que é irmão do Ernesto Guedes que foi treinador do Grêmio) com o Tolentino … e fui, cansado, dormir em nosso apartamento em Novo Hamburgo. Tinha enfrentado uma viagem massante.
Voltando a Porto Alegre.
Essas viagens, de organização fazendária, às vezes, eram em voos regionais, outras vezes em vans locadas. Quando o Moacir Leão (que foi corregedor geral da Receita Federal) me ligou, sequer perguntei como iríamos, apenas combinei que estaria na SEFAZ, as 7 horas da manhã, do sábado.
Aí eu sonho que viajava numa Van enquanto todos dormiam. Eu olho para os lados e percebo que estamos atravessando um cemitério. Nisso, fito meu olhar num túmulo e vejo nitidamente o número 45.
Era o número do meu consórcio da moto.
Era muita coincidência.
Ligo para a Tita, esposa do Moacir, e digo que não vou ir nessa viagem a Passo Fundo. Até o Beto (Beto Albuquerque) estava nos esperando.
Pelo sim, pelo não, acreditei no meu sonho.
Dez dia depois, morre o Miltom, da diretoria da AFOCEFE, que estava na Van que eu iria, mas desisti. Acreditem, com 45 anos.
Queria entender melhor sobre estes segredos ou a emergência desse lado obscuro da mente, porque eu li muito sobre isso, muito mesmo, e as explicações que encontrei até aqui, até hoje, nunca me satisfizeram. Mesmo Freud, é tudo muito superficial, porque quando envolve a morte, a coisa fica muito complicada de ser interpretada à luz da razão.
Nota complementares:
Carlos Demartini, que hoje é presidente da Afocefe, já na época PDT, era nosso canal de contato com o saudoso deputado Carlos Araújo, marido da ex-Presidenta Dilma. Em muitas ocasiões, quando precisávamos negociar, secretamente, fiscais e técnicos, com as bancadas da assembleia legislativa, íamos para a casa de Araújo e Dilma, ali no bairro Ipanema, com vista para o Guaíba e para o local onde ele fora preso pela ditadura. Grande ser humano, coração bom, advogado trabalhista … foi ali que eu conheci e fiquei amigo da Presidenta Dilma. São gente muito boa.
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Dona Marilda, que faleceu em Minas Gerais, Ximenes, que é oficial aposentado, ligado ao SNI e aos serviços secretos do Exército, Moacir Leão, Alessandre Caburé e a Eliziane (sentada). |
Moacir Leão: Corregedor-geral da Receita Federal (terno preto) |
O Moacir Leão esteve em Santiago, ainda era corregedor-geral da receita federal. A Eliziane conheceu-o, o promotor Barbará, o Chicão, o Guilherme Bonotto e o Tavinho fizeram uma janta ele e para o Alessandre Caburé, herdeiro do Grupo Caburé de Porto Alegre. Em período anterior, eu trabalhei com a intelligentsia da receita federal, embora já tivesse trabalhado, da mesma forma, aqui no Rio Grande do Sul, quando Moacir Leão era fazendário estadual. Antes da tragédia que se abateu sobre sua vida, deixou-me amplo material sobre corrupção no governo do PT envolvendo a receita federal. Era para eu escrever um livro. Tenho tudo guardado até hoje. Acho que ele queria proteger o material, de certa forma. Inimigo aberto do Rachid, Joaquim Levy e dos governos do Rio de Janeiro, onde morava e atuava nos últimos anos.
Moacir: doença paralisou-lhe músculos e nervos e veio a falecer rapidamente |
Alessandre Caburé é herdeiro do grupo Caburé. Famoso por, em sua casa, em Atlântida, colocar seus Masseratis, Ferraris, Mercedes de alto luxo em frente a casa. Os pobres fazem fila para olhar a casa e os carros importados e as motos do Grupo.
Carros do caburé, foto de 2006. |
Eu fiquei amigo do Alessandre por intermédio do Moacir Leão. Depois, nos dois anos que morei em São Paulo, Caburé, já noivo da Pepita (o nome dela é Valéria), filha do Prefeito de Andradina e ex-deputado federal, Caburé se tornou amigo íntimo meu.
Naquela novela da rede globo, onde Antônio Fagundes interpreta o Rei do Gado, ele faz um menção real, que foi ao ar, que o Verdadeiro rei do gado era o Prefeito de Andradina, Dr. Orensy Rodrigues da Silva, que era o pai de Pepita e noiva de Alessandre Caburé.
O Alessandre é uma pessoa extremamente bondosa, um homem de um coração puro, sem maldade … eu diria mais: um ser humano raro.
A Pepita também era gente muito boa. Apesar de riquíssima e poderosa, era de uma simplicidade franciscana. Grande parceira para discutir Nietzsche.
A Pepita estudava Direito na USP e vinha a Porto Alegre num jatinho. Depois romperam o noivado. Era uma contradição só. Ela ficou minha amiga por causa dos estudos sobre Nietzsche e também por que se encantou sobre como, nós, no Rio Grande do Sul, sabíamos tudo sobre a Nova Escola Jurídica. Mal ela sabia que eu era de um seleto grupo, mas bota seleto, preparado para outros fins.
Em Porto Alegre, foi com a Pepita e ele que eu conheci o Restaurante Le Cap Ferrat, ali na Carlos Gomes. Ela tomava um suco, chamado “sangue de maria”, que na verdade era um suco de tomate, que custava 30 dólares, hoje seria mais de 180 reais o copo. É parecido com o “balde de sangue inglês”, mas não é a mesma coisa.
Prato nenhum custava menos que 100 dólares. Era uma extravagância total.
Tenho guardado, também, material que envolve o “suicídio” de um amigo, jornalista, o Castrinho, que foi “assaltar” o apartamento de um cônsul paraguaio que detinha um amplo acervo sobre nazistas vivos que moravam na América Latina. Na versão da Polícia, ao ser cercado, ele matou o colega (acho que era um kidon) e teria cometido o suicídio. Depois, eu fui aluno, no curso de sociologia, de sua esposa, Olga, viúva de Castro, era Doutora em Demografia e População e Desenvolvimento, formada na Bélgica, mas sei que fiz, com ela, as disciplinas de População e Desenvolvimento e Demografia. Um talento raro, uma grande professora. Eu acho que ela sabia sobre mim. E acho que a universidade não sabia nada sobre ela, exceto o Lattes.
O Castrinho nem de longe era um assaltante ou ladrão. Era um militante de esquerda, e, com toda certeza, sabia do acervo nazista e estava em busca de informações sobre organizações paramilitares no sul da América.
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Quando nos chegou a informação que a Unisinos havia exposto num mural de vidro, o livro: Holocausto, Judeu ou Alemão, do S. Gastan, no centro 1, foi um alvoroço na comunidade judaica. Vários militantes das células judaicas, estudantes, foram deslocados e matriculados na Universidade. Infiltrados, na realidade.
Quando eu presidia a comissão estadual de ética do PSB, meu secretário-geral era o médico judeu Leonardo Grabois, que vem a ser sobrinho de Maurício Grabois, o grande líder da guerrilha do Araguaia. Eu assinei a expulsão desse pessoal todo do PSB.
Grabois morava em Israel e houvera voltado para o Brasil. Eu já tinha sido presidente do Diretório Municipal do PSB, em Porto Alegre, e depois fui eleito para presidir a comissão estadual de ética, quando conheço e passo a me relacionar com o médico. Ele já era bem uns 30 anos mais velho que eu. É difícil imaginar algum judeu que não fosse de esquerda nos nossos círculos.
Foi aí, com Grabois, que fui conversar – pessoalmente – com o S. Gastan, pseudônimo do dono da Editora Revisão e autor de amplos livros revisionistas sobre o nazismo e a segunda guerra mundial.
Agora falando em romance e livros.
Num dos romances que aprontei, já contei para minha psicóloga que quero que eles sejam lançados após minha morte, conta história de um personagem que investigava uma conexão nazista Alemanha, Brasil e Argentina quando ocorre a explosão numa associação judaico/argentina e morrem 85 pessoas. Divergindo de tudo e de todos, meu personagem confronta até o Mossad, que responsabilizou dois jordanianos pelo atentado, na sede da AMIA. As conclusões do personagem do meu livro é que os explosivos plásticos foram objetos um grupo neo-nazista. Esse personagem pensava demais, tinha outras conclusões, inclusive sobre o helicóptero de Chaquito Menem, assim como que o assassinato do promotor Nisman foi um atentado de Estado e que um juiz argentino foi enganado por um agente da CIA, inteligentíssimo, que induziu todos a responsabilizarem a mudarem o foco das investigações de neonazistas para islâmicos.
Meu personagem caiu em desgraça. Abandonou tudo e passou a viver recluso. Mas ganhou respeito dos líderes que sabem da verdadeira história. A filha mais velha do personagem mora em Israel. É uma mocinha. A outra, a caçula, é uma parte do livro ainda em aberto.