Cena 1 – Os intelectuais de Santiago e região irão me criticar e ironizarão: mas o povo não sabe quem foi Antígona. Lá vem o Júlio com suas modas.
Cena 2 – Mas eu direi ao povo quem foi Antígona. Não podemos dizer somente o que o povo sabe. O que o povo não sabe também deve ser dito. Outro dia eu contei a um intelectual sobre o desafio de dançar o último tango em Santiago e eu disse-lhe que Bernardo Bertolucci era a ficção e imitava a arte e eu era a própria realidade.
Cena 3 – Sei que quase todos da polis me repelem, não me conhecem, mas odeiam o que eu escrevo. Mas até quem diz que não me lê, me lê. Não me enquadro e nem me ajusto. Não existo para agradar.
História Primeira – Antígona era filha de Édipo, o mesmo que matou o pai e casou com a mãe e tornou-se rei de Tebas.
História Segunda – Sófocles era como eu, escrevia peças, textos. Antígona também é uma peça de teatro e para fins de catalogação sistemática é classificada como teatro grego (tragédia).
História Terceira – Antígona era irmã de ISMÊNIA, ETÉOCLES e POLINICES.
História Quarta – ETÉOCLES e POLINICES morrem lutando às portas de Tebas. Com a morte de ambas, já tendo a desgraça atingido Édipo, Creonte, o filho de Meneceus, assume como Rei de Tebas. Eis que surge o primeiro decreto do novo rei.
O DECRETO DE CREONTE
Eteócles deverá ser sepultado com todas as honras e pompas dedicada aos heróis. Mas seu irmão, POLINICES, ninguém poderá enterrar-lhe o corpo, velhar-lhe ou chorar por ele (ele era como eu). Que fique exposto a ferocidade dos cães e abutres.
CORIFEU, O PUXA SACO – Tua vontade, ó Grande Creonte, será respeitada e que todo o povo de Tebas se torne fiscal da vontade do soberano.
DIÁLOGO DE ANTÍGONA COM ISMÊNIA
Antígona – Procuro teu auxílio para enterrar um morto.
Ismênia – O morto que Tebas renegou. Você tem audácia de enfrentar o edital de Creonte contra a ira do povo?
Antígona – Nenhum dos dois é mais forte que o respeito aos costumes sagrados, como o enterro. Meu irmão também é teu. Poderão me matar, mas não dizer que o traí.
PASSAM-SE AS HORAS
E eis que o guarda entra gritando: – Ninguém sabe o que houve, o chão está liso … o corpo, quando descobrimos a luz primeira, tinha poeira e terra.
CREONTE – Raivoso, me custa acreditar, quem teve a audácia inconcebível; quem foi?
QUEM SÃO OS CREONTES SANTIAGUENSES
Santiago não é Tebas e nem eu sou Sófocles. Mas muitos instalados em micro-poderes, pequenas Tebas, agem como se fossem creontes. O povo não é bobo, sabe onde eles estão e quem são eles.
ARTE E REALIDADE
Quando a arte imita a realidade a tragédia do teatro se volta para o teatro da vida e eis que emergem os creontes cercados de corifeus. Mas em SANTIAGO também existem Ismânias e Antígonas.
Em Santiago crianças passam fome, não existe emprego, as pessoas perderam a dignidade, a descrença nos políticos é generalizada,tudo é algo vago e impreciso e só tolos acreditam nesse discurso falacioso.
CREONTE SANTIAGUENSE
É um rei esperto, não bate, usa um corifeu para bater nos outros e agora inventaram de trazer um corifeu factóide, cujo pai já foi Creonte;
O CORIFEU DA UNIVERSIDADE
Virou um cabide de emprego. Tiraram uma família e botaram outra, o compromisso científico e tecnológico não existe, planejam governar Tebas em conluio.
OS CORIFEUS SINDICALISTAS
Não fazem luta de classe, nunca leram Gramsci ou Luckás, não lutam pelo avanço de uma consciência crítica e revolucionária, apenas usam os aparelhos para se projetarem e serem candidados medíocres nas próximas eleições.
MEDO E TERROR
Há medo generalizado em Tebas, todos se calam, uns por medo, outros por covardia, outros por omissão. E têm aqueles que fingem que cumprem suas obrigações constitucionais e legais enviando pequenos ofícios.
NA MADRUGADA
Descobriram Antígona em Santiago.
Creonte – Mas como, quem ousou me desafiar.
CORIFEU – Vamos lá para o escritório do pai e vamos ver o que faremos para destruir ANTÍGONA. Nós temos como cercá-la e isolá-la até a morte.
CREONTE – Chamem meu motorista e avisem que vou chegar mais tarde em casa.
II PARTE
Antígona não teve medo de desafiar o tirano Creonte, que decretara que o corpo do seu irmão deveria ficar exposto ao relento e devorado pelos abutres.
Nem gesto de coragem, desafiou o tirano e desobedeceu uma lei injusta.
Esse ensaio mescla aspectos da arte da vida e da vida real, numa esperança de alertar a todos para não temerem os creontes e que Antígona pode ser qualquer um de nós.
Sófocles, na arte, reservou lugar para Creonte, Na realidade, resta saber o destino dos Creontes santiaguenses.
Final, Júlio Cesar de Lima Prates chora pela separação de sua filha. Vive os infortúnios de uma paternidade negada e amordaçada. Cassado e perseguido, descobriu que o Ministério quando clamava contra a mordaça é – hoje – quem mais amordaça, saíram da condição de oprimidos para assumirem o papel de opressores. Tudo que Júlio César escreve vira crime nas mãos de uma instituição que quer vingança contra seus escritos. A vida é curta e o tempo que lhe deram para ver sua filha é mais curto ainda, ele espera viver um pouco para ver o destino dos Creontes que querem mandar em tudo e se acham donos de Tebas. Júlio César despediu-se de sua filha. Sabe que uma revolução sangrenta esta a caminho e que o destino do seu destino é o engajamento. A soberba e a arrogância do secretário deixam Júlio César de Lima Prates impressionado. Ele aprendeu conhecer quem vive de aparência e quem têm essência. Velho e embranquecido, herdeiro de todos os paradigmas, entende o desafio do destino, sabe que viveu a felicidade e sabe o que é amargura.
A vida é curta e um erro traz um outro erro. Desafiado o destino, depois tudo é destino, só há felicidade com sabedoria, mas a sabedoria se aprende no infortúnio. Ao fim da vida os orgulhosos tremem e aprendem também a humildade. Já é tarde, Creonte se oferece em holocausto. Tebas morre com ele. O inimigo avança.
FINAL