Quando a busca é o próprio encontro ou quando o encontro é a própria busca: anotações sobre a indecisão antes de votar para presidente do Brasil

Desde muito cedo defrontei-me com um grave problema em minha formação. Cedo identifiquei que meu processo cognitivo era polímata ao natural e só isso explicava a ausência de uma definição mais clara. Parece pecado, mas noto exatamente o mesmo processo em minha filhinha.

Com 11 anos eu sabia que era apaixonado por história. Mas a geografia também me fascinava. E na mesma proporção em que ía amadurecendo, mal entendia porque eu era tão aberto à filosofia, à sociologia, à antropologia, à ciência política, à economia, ao direito, e exatamente aos 27 anos, ao conhecer a Escola de Frankfurt, descobri também uma vertente psicanalítica, foi quando passei a ler Freud nos originais. Nada a ver com Marcuse, Habermas … A psiquiatria foi um passo para levar-me a anti-psiquiatria, Cooper, Laing,  e assim fui indo, estou com 63 anos, nunca parei e nunca me encontrei, exceto se a busca é o próprio encontro. Pode até ser que seja.

Andei pela literatura de diversos países, embora minha origem trotskista tenha me levado a identificação com Dostoiévski e Tolstoy. Na França gostei um pouco do existencialismo sartreano, mas quem mais me seduziu mesmo foi Camus, que era franco-argelino. É raro alguém da minha geração não ter passado pela literatura alemã e mergulhado em Thomas Mann; lembro-me bem que a Luciana, certa vez me contou que Mann era o preferido do Tarso.

Por volta dos 25 anos eu compreendi que os PPGs da UFRGS, USP e UNICAMP tinham seus campos paradigmáticos; e assim comecei a mergulhar em todos os editais seletivos e – de cara – descobri como funcionavam as regras do jogo, o segredo era dominar os campos paradigmáticos e tudo virava um brinquedo.

Confesso que tive dificuldades apenas em buscar Hegel e a Fenomenologia do Espírito, mas Garaudy e o famoso Conheça Hegel foi meu destranca ruas.

Certo dia minha filha me perguntou quantos livros eu tinha lido na vida, desde criança. Que pergunta mais difícil de responder. Foucault, por exemplo, eu sempre o li por trechos e nunca por completo. A Náusea de Sartre é entediante. Simone nunca me atraiu pelo estilo, é uma escrita mais engajada, militante. Nem de longe parece como uma Rosa de Luxemburgo.

O fascinante no mundo do conhecimento é a busca, a eterna busca. Como explicar que eu sou obcecado por estudar teologia e estou matriculado em mais um doutorado em teologia? Estudo apenas pelo prazer, foram as mesmas razões que me levaram a estudar hebreu, com 22 anos, russo aos 23 e francês desde a madame Espéria Pozo até a Aliança Francesa, em Porto Alegre.

Tudo foi muito fascinante em minha vida. Tudo mesmo. Até os encontros mais recentes com teólogos ateus e com a teologia reversa.

O mundo digital me propiciou conhecer pessoas de alta inteligência, como o Anitablian e a geopolítica internacional. Aprecio quem sabe, gosto de pessoas inteligentes e acho que a vida é assim mesmo. Nossas loucuras são desbravadoras. Muitas vezes eu fico analisando a Nina. Observo o modo dela ler, a forma abrupta das conclusões precipitadas.

Certo dia encontrei um santiaguense, que até gosto dele, embora seja um idiota pela cegueira ideológica; mas ele me contou com entusiasmo que a filha dele o havia presenteado com a A (O Universo) Vida numa casca de Noz Moscada. Claro, ele falava de Stephen Hawking. E como ele é vanguarda da esquerda, não quis falar-lhe que esse livro eu o comprei em 2016. Acho que bastante tempo atrás comprei O Rio que Saía do Éden…olha, se não me engano, foi por 1998, 1997, por aí. Anos mais tarde, acho que volta de 2008, a Eliziane apareceu falando nesse livro. Essas incursões à Hawking, foi como Capra e o Tao da Física. Li por curioso o tal paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. No fundo, achei uma coisa meio forçada.

Não soube responder a minha filha quantos livros eu já li, sinceramente, não soube. Assim como não sei em quem votar para presidente nesse domingo. O mais provável é que anule meu voto, embora o voto certo no Olívio Senador.

Assim é a vida. Sei lá porque tive interesse em estudar e ler tanta coisa. Acho que era por ocupação. Até hoje amo livros velhos. A Nina é mais radical, é Lula e pronto. Eu, honestamente, para mim, tanto faz. A Nina já sabe de suas escolhas. Está  mocinha, é um amor de linda, agora entendo porque os pais são bobos.

Que todos tenham uma boa votação.

 

 

 

 

Um novo espectro ronda a Europa

Itália e Suécia protagonizam a ascensão  do ultraconservadorismo na Europa.

A vitória da neofascista Giorgia Meloni (foto) nas eleições italianas e de neonazistas na Suécia comprovam a emergência dessa tendência extremamente preocupante para a democracia mundial.

Se tal indicativo avançar mesmo pela Europa, o mundo estará diante de um colápso da democracia e da emergência de ideias perigosas avançando por dentro do espectro democrático.

Pesquisas

Nas pesqusas IPEC e DATAFOLHA, publicadas agora no início da noite de sábado, Lula lidera com 51% no IPEC  e 50% no DATAFOLHA, tendo chances de vencer no primeiro turno. Repito: são notícias divulgadas pela imprensa, apenas repito o que está sendo divulgado, embora eu discorde desses números tão discrepantes.

Por que Putin invocou o lançamento das bombas sobre o Japão?

Nina, minha filhinha e a aposta num mundo que não virá
Nina, minha filhinha e a aposta num mundo que não virá

Eu, por alguma estranha razão, vejo muitos fatos sociais, políticos e econômicos com um olhar diferente da grande maioria das pessoas.

Li a Revolução Russa de Leon Trotsky, li quase toda a obra de Lênin, tentei entender as mudanças estalinistas criando uma quarta lei para a dialética, e, certamente, sou o santiaguense mais familiarizado com as leituras da revolução russa de 1917. E acompanhei tudo, lendo tudo,  até o levante explosivo que pôs fim a URSS.

Apenas digo isso, sem falsas modéstias, porque ouvi o pronunciamento do presidente russo Vladimir Putin com outros olhos, com uma outra versão.  Ao invocar no seu discurso de ontem, a questão do lançamento das bombas atômicas norteamericanas sobre Hiroxima e Nagasaki, fiquei convencido que Putin estava dando um recado ao ocidente. A situação mundial é grave, muito mais grave do que os analistas políticos internacionais podem inferir.

Por que Putin invocou que os norteamericanos atacaram o Japão com bombas atômicas?

Foi apenas uma ilustração? Um esforço retórico?

Claro que não. Ele deu um aviso ao mundo, que ao defender seu povo e sua terra contra os modismos ocidentais, ele poderá levar mão no seu arsenal nuclear.

Com a OTAN sem controle e com Macron cada vez mais belicoso, o recado de Putin foi muito claro, ele disse, em outras palavras, que usará seu arsenal nuclear contra a política americana, francesa e inglesa, que querem, comandar o mundo. Ademais, ao falar na defesa dos valores locais, e citou até o campo religioso, Putin delimitou bem seu espaço e deixou claro que pode matar muita gente, especialmente na Ucrânia.

Ontem, ouvindo o Rogério Anitablian entendi bem seu duro recado sobre a gravidade da situação mundial. E perguntava ele: qual será a reação da OTAN e dos EEUU após o lançamento da bomba russa sobre a Ucrânia?

É claro que podemos estar marchando abertamente para um conflito mundial, de proporções catastróficas. Enquanto nós ficamos brigando lulistas contra bolsonaristas, poucos atentam ao que está acontecendo no mundo. Só alguém muito tonto não percebe a ganância de Macron para colocar as mãos sobre a Amazônia e sua rica biodiversidade. Fico assombrado com a cegueira do PT/PDT/PSB/PC do B/REDE … sobre a tentação da França de invadir e ocupar a Amazônia. Aqui vivemos na fase infantil do comunismo e vivemos de hostilizar as forças armadas. Não temos desenvolvimento científico e tecnológico em nosso parque bélico; usamos velhos fuzis defasados, não temos defesa nuclear e imaginamos que o mundo é uma ciranda de crianças dançando.

O nacionalismo é visto como chacota e o patriotismo é estigmatizado. Pobre gente, lamento pela minha filha e pelas crianças da geração dela.

Não sei se acordaremos algum dia ou seremos eternos adormecidos. Não sei mesmo. Só sei que essa conjuntura mundial me assusta e me preocupa muito.