A situação do coronavírus em nossa região é objeto de controvérsias. O caso que estourou, na tarde de ontem, em São Borja, RS, onde até uma escola vai virar hospital de campanha, é um desses casos onde as informações reais são omitidas da população, e cria-se uma situação de controle aparente. É certo que as coletas de sangue para amostras são muitas e o laboratório do Estado não vence a demanda. Diríamos que temos casos suspeitos, apenas isso. O que falta mesmo no país são testes específicos para o coronavírus. A sistemática adotada é arcaica, remonta os anos 50.
Ao invés de comprarem leitos em hospitais particulares, deveriam investir em testes. Se os testes são negativos, tudo bem, toca-se tamiflu e outros antibióticos. Gripe, no sul, é algo corriqueiro. Eu me criei ouvindo falar que o idosos morriam no inverno. É óbvio, a baixa imunidade, somada a outros fatores, desde a diabetes até a hipertensão, contribuem para esse entendimento.
A questão é que casos suspeitos, e toda e qualquer gripe virou caso suspeita, têm assombrado a população e as autoridades sanitárias. Ninguém têm certeza de nada.
Eu tive a informação que a CTI em Santiago, hoje, tinham 7 pessoas no isolamento e dois casos complicados, um rapaz de 29 anos e uma senhora de 62, embora nenhum confirmado. O testes vão de carroça e voltam no lombo da mula. A metáfora sintetiza o atraso que vivemos, embora um excelente hospital, excelentes quadros, o Estado que assumiu os testes, via LACEN, não vence atender a demanda e a demora retarda o tratamento correto. O ideal dessa situação seria o governo federal, com uma mobilização emergencial, com as forças armadas, fazer como a Coréia do Sul fez, que praticamente testou toda a população. É claro que o nosso LACEN têm excelentes quadros, mas até o dia 06 desse mês estava restrito a diagnósticos de Influenza A e B, parainfluenza, adenovírus e o vírus sincicial.
Aqui, na fronteira-oeste do Estado, o caos da situação está por conta do atraso do LACEN e a ausência de testes. Os kits já deveriam ser distribuídos aos hospitais, independente de serem públicos ou não, pequenos, médios ou de grande porte.
O papel do Administrador do Hospital Regional de Santiago, Ruderson Mesquita, é altamente elogiável, encara tudo com seriedade, não produz factóides e nem tira proveito político do caos. Conduta elogiável e exemplar. E nem usa jaqueta militar para simular que está em guerra.
Nosso políticos, porém, demonstram a cara pálida, a ausência de força e o imobilismo, patético imobilismo. O que fez o Heinze até agora, um senador da República, que não teve peso para “bancar” testes para saber se as pessoas estão ou não com o coronavírus. Osmar Terra, a situação é emergencial e têm que botar o pé na porta da sala do presidente e exigir que os hospitais recebam os testes para identificar se os casos suspeitos são coronavírus ou não. Seguir o ritmo do LACEN é piada, neste contexto patético.
Dia 28 de fevereiro de 2020, em entrevista ao CLIC RBS, Gabbardo assegurou os testes no Rio Grande do Sul sairiam em 24 horas. E ???
Não podemos mais ficar nas mãos do LACEN, que já demonstrou não conseguir atender a demanda. A situação exige que o Estado, tal como sustenta a CRFB/88, União, Estado e Municípios, somem esforços e paguem laboratórios particulares em caráter emergencial.
Nos EEUU, segundo o MarketWatch, o preço/custo de um teste individual varia de mil dólares até três mil dólares. Convenhamos que não é um preço acessível. Agora, temos dois bilhões do fundão eleitoral. Por que não usar este recurso todo em testes?
Nesse ritmo, se tivermos mesmo casos de coronavírus e este tempão enorme para se diagnosticar a doença, é muito provável que o vírus siga se propagando, pois sequer temos recursos para identificá-lo.
Isso é um crime com a população e este debate precisa ser mais antenado. O MPF poderia bem intentar uma ação civil pública, em defesa dos interesses difusos e coletivos da população, e futricar as autoridades acerca de ausência destes testes que diagnosticam o coronavírus.
(Escrito direto e sem revisão – 2.04 da madrugada).
Emprego o conceito população no sentido demográfico; povo é no sentido político, enquanto um dos elemento constitutivos do Estado.
MPF – Ministério Público Federal
*CRFB/88 – Artigo 129, III.
*Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.