Quando eu não sou eu, quando sou aqui, já não sou mais ali …

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*Júlio César de Lima Prates

Em cada leitor, gostem ou não, existe um grau de interatividade e essa se expressa na compreensão que se estabelece entre o que é lido com o nível de informação do receptor/leitor. De nada adianta eu falar, por exemplo, em Ymir, Vili, Ve e Odin se o leitor nada sabe acerca da mitologia nórdica. Assim, me cuido de tudo o que escrevo e levo em conta a necessidade de compreensão. Eu conheci Zélia Gattai, ouvi suas palestras e li algumas de suas obras. É claro, sou mais Jorge Amado, sou mais Cavaleiro da Esperança que Anarquistas Graças a Deus. Meu sobrinho, Guilhes Damian, foi o primeiro a perceber que minhas inclinações eram muito mais afetas ao anarquismo do que ao marxismo.

Mas como nunca me preocupei com rótulos, sempre fui um pouco de cada coisa. Poucas pessoas aprenderam a dominar a dialética como eu aqui em Santiago. Por isso mesmo, permito-me construções e desconstruções, sem me importar com o que abomino no marximo: o autoritarismo, as fórmulas prontas, a arrogância e o mecanicismo.

Mas me serve o paradigma e uso-o como ninguém. Não vejo o anarquismo como algo estanque e repudio com igual veemência seu arquétipo fechado, mecânico, uma nova religião dogmática, que negando faz apologia do que diz combater. Mas o individualismo dentro do coletivismo me serve e não me seduz a anulação do eu em nome de uma proposta coletiva. Curiosamente, até onde eu sabia, notei minha filhinha transitando do marxismo ao anarquismo.

Na verdade, não sei se existe uma verdade na sociedade. Prefiro acreditar que somos uma síntese de várias verdades, existem núcleos de verdades em quase todas as teorias. Outras, não. Não acredito em prevalência só dessa ou daquela teoria. E também não tenho medo de me expor em exposições teóricas. Acho que quanto mais compreendemos uma teoria ou algumas teorias, mais incertas se tornam nossos seres. Quando eu não sabia muito, era muito mais convicto. Agora que sei um pouco mais, sou um pouco menos convicto.

Mas, afinal, a dialética me permite descrever-me como marxista e protestante e permite-me comparar o marxismo a uma religião. Se é ou não é, sei lá, pode não ser, mas que os pressupostos me parecem muito idênticos, me parecem mesmo.

No estudo da sociologia das religiões, preferi conhecer todas elas: Judaica, Egípcia, Nórdica, Hindu, Sino-japonesa, greco-romana, persa, maia, asteca, yorubá…  … cada uma tem um núcleo de verdade e todos os que professam suas crenças, acreditam suas verdades como prontas, verdadeiras, dogmáticas, absolutas e únicas. E é dessa crença e dessa fé que se derivam os fundamentalismos. Os budistas acham que suas verdades são únicas e acreditam somente no arquétipo e nos pressupostos teóricos do budismo. O mesmo raciocínio vale para os judeus, para os cristãos, para os islâmicos…Irracional é discutir religião. Religião é como nariz, cada um com o seu. Eu gosto muito de ler e entender o evolucionismo, não raras – às vezes – ando com minha cabeça no período cambriano, transito do paleozóico ao mesozóico e não encontro guarida para fantasias no cenozóico.

Confesso que há alguns anos atrás imaginei que ingressaríamos numa sociedade de luzes, com as luzes da ciência e da razão se sobrepondo aos misticismos. Porém, errei feio, pois nunca pensei que estaríamos mergulhados numa terrível onda mística, onde a fantasia e a ilusão fazem escola. Nada contra a fantasia e a ilusão, pois bem sei de sua imprescindibilidade. Mas defrontei-me com uma sociedade de fé, cuja crença irracional no fundamentalismo das crenças, é vingativo e punitivo para quem não se submete ao sistema de dogmas e crenças. Poucas pessoas em Santiago ardem na carne o custo de falar a verdade sobre Deus, crenças, fé e religiões.

O que poucos notam é que eu sou honesto ao externar minhas dúvidas e não ter medo de assumir minhas incertezas. E assim vou indo, desafiando o linchamento moral a cada esquina, convivo com as pragas de que mais dias menos eu me dobro ao deus dos crentes e suas loucuras de que quem não vem por amor vem pela dor. Mas quem é que disse que eu quero ir para algum lugar?

Nina, meu anjinho
Nina, meu anjinho

Sobre minha alma, se é que ela existe, decido eu. Até hoje não temos prova alguma da existência de alma e espírito, tudo são criações humanas, assim como o céu e o inferno.

A inquisição moderna é diferente, é excludente, finge que aceita os desajustados e – no fundo – nos quer ver mortos para satisfazer suas profecias de fé. Mas eu quero que todos tenham o direito sagrado e universal de escolha.

Luto e morro lutando pelo direito de as pessoas poderem escolher sua fé, sua crença e sua igreja. Um dia qualquer, arrumo uma igreja e vou lá fingir que sou normal, afinal, humano eu sou da espécie. Só os princípios dos iluminattis me fazem bem, e por isso adoro meus amigos trabalhistas, petistas e tudo mais que for comunismo e socialismo. No fundo, é tudo a mesma coisa. Apenas depositários de sonhos diferentes,

Quando digo que sou e não sou, não estou brincando. Quando digo que sou, já não sou mais, e o que sou aqui, não sou ali. Dialética pura. Quem não compreender isso, não compreenderá que um homem não se banha duas vezes no mesmo rio e que meu blog é somente para leitores com senso bem refinado e discernimento dialético, sem verdades prontas, fechadas e dogmáticas.
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*Autor de 6 livros, jornalista nacional com registro no MtB nº 11.175, Registro Internacional de jornalista nº 908 225, Sociólogo e Advogado inscrito na SA OABRS sob nº 9980.

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