Ontem, no debate na BAND, Lula propôs, embora timidamente, a convocação de uma assembleia nacional constituinte.
A tese de Lula caiu como uma luva na mão da direita nacional.
Nem a ANC de 1988 foi exclusiva, autônoma, independente e soberana. Nasceu de um ato do executivo. A cenário, hoje, para convocar uma ANC é tudo que o grupo pró-Bolsonaro almeja. Dias atrás, recebi uma proposta de reforma do poder judiciário, bem ao estilo da EC 45. Só que com alterações bem substanciais. Mexe com os juízes singulares de 1ª instância até ministros do STF, onde mudam tempo de judicatura, critérios de escolhas e abrem uma lacuna na facilidade de impeachment. A proposta, embora fale em alterar o STF, muda praticamente toda a estrutura do poder judiciario, inclusive tirando a inamobilidade, vitaliciedade, alterando regime de férias e mudando os critérios de acesso ao Estado-juiz.
Não precisa ser um expert em congresso nacional para saber que muito da constituinte de 1988 incomoda o pensamento de direita no Brasil, a começar pela autonomia universitária, menoridade penal, autonomia do judiciário, reforma trabalhista, previdenciária, dentre outras bandeiras bem conhecidas.
Lula, no debate de ontem, mostrou-se despreparado, mas ao acenar com a convocação de uma ANC, com toda a certeza, causou frio na barriga dos seus aliados e despertou a alegria dos grupos bolsonaristas e do pensamento de direita no país.
Bolsonaro é esperto e – em caso de vitória – tudo que ele e os seus desejam – é a convocação de uma nova ANC.
O cenário é altamente propício à direita, é só analisar a composição do futuro congresso nacional a partir de 2023.
Nunca a direita brasileira foi tão forte como nessa eleição.
Propor a convocação de uma ANC nesse cenário, é uma ideia kamikaze, sem pensar, especialmente para o pensamento de esquerda do país.
Por isso, eu tenho certeza que Lula falou uma coisa que ele sequer discutiu com os seus. Se a esquerda brasileira, nesse contexto, está defendendo a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, é uma burrice asnal sem precedentes.
A direita nacional encontrou seu maior argumento nas palavras de Lula. É claro que Bolsonaro percebeu o filet, mas ficou quieto, pois ele sabe que com o futuro congresso nacional, tudo que ele quer e os seus querem, é uma ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE.
Se em 88 a ANC não foi exclusiva, soberana, autônoma e independente, imaginem se será em 2023?