*JULIO CÉSAR DE LIMA PRATES
Bem, anunciado o resultado das eleições municipais, aparecem as críticas, via de regras, uma responsabilização ao PT e aos aliados que governam o país junto com o presidente Lula.
Eu sou apenas um observador e como tal, não estranhei a derrota da esquerda, até porque há dias eu já anunciava esse desastre, até porque sou uma pessoa simpática à esquerda e estou dentre os derrotados. Só não perdi o senso crítico e nem nunca fui de fazer apologias as mentiras de qualquer um dos lados: esquerda ou direita.
Dias atrás, respeitosamente, respondi e tenho os áudios gravados ainda comigo, o companheiro Júlio Garcia, meu amigo desde o ano de 1978, onde critiquei duramente esse tal de Jessé, que deve imaginar que os pobres não podem ser de direita e que todos os pobres devem ser de esquerda. Construção teórica, aliás, tão absurda, quanto ridícula, desprovida de fundamentação e simplória, pois parte do pressuposto de que só a esquerda, no Brasil, particularmente, detém o monopólio de interesses das pessoas pobres.
Eu falo e escrevo, reafirmo isso, como esquerda e como pobre, pois sei bem minha origem e devido alguns conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, tenho instrumentais que me permitem uma tomada de posição e a construção de uma abordagem analítica/crítica.
A queda do muro de Berlim, em 1989, a queda da cortina de ferro e desagregação do comunismo foram momentos riquíssimos em minha vida, especialmente porque tudo veio acompanhado do surgimento do Mercosul, em março de 1991, assim como o surgimento dos outros megablocos, cito o Merconorte, 1998, o Espaço Comum Europeu, em 1994 e o surgimento do bloco dos Tigres Asiáticos, ou os Novos Tigres, que tomou corpo na metade de década de 1990.
Eu era tão ligado nesses assuntos, que minha posição enquanto presidente do Diretório Municipal Socialista de Porto Alegre e presidente estadual da Comissão de Ética Socialista, devido a minha intensa produção teórica, faziam com que eu fosse – frequentemente – requisitado para a realização de palestras pelo interior do Estado, sempre em companhia do socialista CARLOS ORLING, que foi nosso secretário-geral. Apesar do peso dos compromissos, nunca reclamei, pois fazia tudo de bom grado e sempre ávido em discutir conhecimentos e dividir teses Estado afora. Certamente, foi período em que mais proferi palestras em minha vida.
Minha vivência foi muito rica, pois adquiri muitos conhecimentos e a sede de socializar os debates enriqueciam-me sobremaneira. É claro, acabei estudando muito, de forma autodidata, e foram conhecimentos bem-vindos os quais valho-me até os dias atuais. Período riquíssimo e admito que minha formação nunca foi acadêmica, embora eu tenha cursado Sociologia e, mais tarde, Direito.
Desse período em diante, até os dias atuais, nunca parei e sempre tive um bom quadro e uma boa leitura dos fatos políticos, sociais e econômicos, especialmente do neoliberalismo e da financeirização.
Após morar duas décadas e uns anos em Porto Alegre, Brasília e São Paulo, decidi retornar a Santiago, que é minha terra natal e onde amo boa parte das pessoas, embora eu tenha inimigos poderosos e cruéis.
Em Santiago, com 22 anos de blog, pode-se dizer, perfeitamente, que nunca parei de escrever e nem de produzir. Encontrei e tive grandes amigos em Santiago, alguns de antes de ir embora, cito, por exemplo, Júlio Garcia, uma pessoa rara, e amigos raros, como foram Chicão e Tavinho, pessoas que a despeito de estarem num outro espectro ideológico, nunca manifestaram desejo algum de mudarem minhas posições, pelo contrário, sempre respeitaram e sempre souberam conviver com as diferenças, mantendo a amizade em primeiro lugar.
Foram duas mortes pesadas e que me chocaram sobremaneira.
Sofri muito, da mesma forma, com a destruição de minha pequena família e – mais grave ainda – quando descubro pessoas que conviviam ao meu lado, armando e tramando tudo pela minha destruição. A rigor, sequer acreditava, pois sempre entendi que eu era uma pessoa pobre, sem bens, e mal consegui entender a ação dessas pessoas contra mim. Foi uma grande psicanalista, de São Paulo, a quem contei tudo que se passou comigo, que me lembrou do filme AMADEUS e a origem do ódio de Saliere contra Mozart, resguardadas as particularidades de uma vida humilde como a minha.
A rigor, aprendi a conviver com o peso da destruição e – ultimamente – com o peso do afastamento de minha filha, embora nada tenha sido iniciativa dela.
Entretanto, dói-me o peso do desgaste e a reflexão sobre a avaliação do investimento que eu fiz, totalmente anulando-me pelo crescimento de outra pessoa. Mas esse é o custo que todos nós temos que passar e pagar. O importante é que estou vivo e estando vivo estou sempre tomando posições.
Nos últimos anos, fechei-me em casa, nunca mais sai, exceto para trabalhar e comprar comida. E mesmo assim, as adversidades nunca pararem.
Hoje ao meio dia uma amiga, pessoa que eu estimo muito e porta-se mais que uma irmã minha, a Dra. Marta Marchiori, convidou-me para almoçar. Há dias ela esteve doente e sempre conversávamos por whatsapp. Mas ela programou esse almoço de hoje.
Sempre ávida em ajudar-me, eufórica com o nosso eventual podcast, trouxe-me mais uma sugestão de renome nacional e gente da terra. Como sempre. Fiquei sensibilizado com a ideia de Marta.
Mas, após o almoço, trocamos ideias sobre as candidaturas locais que emergem para deputados estaduais. Marta tem uma leitura muito coincidente com a minha ao interpretar o governo Tiago, que é bastante interventor, embora se diga de direita, no fundo é totalmente de esquerda, como a própria prática do PP. Altamente interventores, avessos aos pressupostos do neoliberalismo e furiosos no campo tributário. Exatamente como o PT e avessamente ao liberalismo.
No meio dos diálogos, entra o nome de Marcelo Brum, outro que se diz de direita, mas sua prática é vivamente de esquerda. Não sem razão, ele e Vulmar estão mutuamente apaixonados.
Só não analisamos o Bianchini, apesar do pouco tempo e do esvaziamento do restaurante enquanto conversávamos. Marta é minha amiga de longos anos, acompanhei sua doença recente, uma gripe dessas potentes, por whats e sempre disposta a trocar ideias. Acompanhou a gravidez da Eliziane, o nascimento de Nina e o crescimento de Nina. Sempre uma pessoa respeitosa, amiga familiar e sempre ávida em trocar ideias. Curiosamente, sempre foi minha amiga, sempre soube discernir as coisas e sempre me conheceu melhor do que ninguém, não sem razão, tanto ela quanto seu namorado são meus amigos e companheiros de interação.
A dra. Marta uma pessoa séria, altamente séria, pessoa de palavra, amiga de quem ela gosta e admira, e uma rara pessoa estudiosa para os padrões de Santiago.
E assim vou seguindo a vida em Santiago. Como quem acompanhou bem a emergência do PT e as primeiras vitórias petistas, demonstrei que a emergência das grandes derrotas estavam na cara, Só quem defende uma república de servidores públicos é que não concorda comigo e mesmo quem é avesso a liberdade de escolha profissional é que não entende que a virada nacional é iminente.
Assim é tudo na vida. É necessário sabermos ler os fatos sociais, políticos e econômicos, sob pena de sermos tragados acriticamente pelo desastre.
*É escritor, autor de 6 livros, jornalista brasileiro registrado no Ministério do Trabalho sob nº 11.175, jornalista com registro internacional nº 908225, Bacharel em Direito, em Sociologia e em Teologia. Pós-graduado em Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual. Também é Pós-graduado em Sociologia Rural.